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sexta-feira, 25 de maio de 2012

JORNAIS MAÇÔNICOS DA INDEPENDÊNCIA


O primeiro jornal a circular no Brasil, embora feito fora dele, foi o Correio Braziliense, ou Armazém Literário, publicado, a partir de 1808, pelo maçom Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, cognominado "o Patriarca da Imprensa Brasileira".

O Correio Braziliense não foi apenas o primeiro órgão da imprensa brasileira, mas, principalmente, o mais completo veículo de informação e análise da situação política e social de Portugal e do Brasil, à época, com a defesa de uma verdadeira reforma de base para o nosso país, batendo-se pela necessidade de construção de uma rede de estradas, pela utilização de matérias-primas na fabricação de manufaturas, propiciando a formação e a expansão do mercado interno, pela abolição da escravatura, pela transferência da capital para o interior e pela adoção de uma política imigratória que aproveitasse, de preferência, artesãos e técnicos.

A publicação do jornal só seria interrompida em 1823, com a morte de Hipólito.
    Todavia, a imprensa brasileira mesmo, feita no país, só teve início após a vinda da família real portuguesa para o Brasil, com a criação da Imprensa Régia, instalada no Palácio do Conde da Barca, em maio de 1808, de onde, poucos meses depois, sairia o primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro, dirigida pelo frei Tibúrcio José da Rocha e cujos exemplares eram vendidos a oitenta réis.

Esse jornal circularia até 31 de dezembro de 1822.
Durante o período da campanha da independência, iriam surgir muitos jornais, alguns dos quais teriam vida bastante efêmera.

Entre eles, podem ser citados:
  
 
O Macaco Brasileiro
, órgão do partido antibrasileiro e contrário à independência, dirigido por Manoel Zuzarte e Pedro da Silva Porto. Partindo de um título, que já era um insulto aos brasileiros, o virulento jornal não respeitava nem os familiares dos mais destacados brasileiros da época.
   

D. Periquito da Serra do Órgãos
, jornal de cunho nacionalista, que lutava pela independência e defendia os brasileiros dos ataques do O Macaco Brasileiro.
   

Semanário Mercantil
, órgão das classes conservadoras, o qual se destacava pela sobriedade e seriedade, sendo, publicamente, bastante respeitado.
   

A Malagueta
, cujo título já mostrava que o seu tom era de crítica violentíssima e em linguagem desabrida.  
   
Reclamação do Brasil
, dirigido por José da Silva Lisboa (visconde de Cayru) e que não se envolvia nas tricas políticas, preferindo tratar de assuntos sociais e dos negócios internacionais.

Além desse, todavia, existiam os jornais dirigidos por maçons proeminentes e que, mesmo não sendo órgãos oficiais de nenhum grupo maçônico, refletiam as idéias de seus dirigentes e expunham rivalidades entre as facções maçônicas, interessadas na independência. A maior parte deles acabou tendo vida efêmera, não só por esgotamento de suas finalidades, mas, principalmente, em conseqüência de atos de força, frutos da instabilidade política dos primeiros anos do Império. Podem ser destacados, porém, os seguintes:
   
O Revérbero Constitucional Fluminense
, dirigido e redigido por Joaquim Gonçalves Ledo e pelo cônego Januário da Cunha Barbosa, o qual duraria exatamente treze messe --- de 11 de setembro de 1821 a 8 de outubro de 1822 --- e que, em suas páginas (que não possuíam colunas, como os jornais posteriores), espelhava as contundentes idéias da emancipação política, muitas vezes de maneira radical, contribuindo, assim, para a formação dos sentimento de independência. Como não poderia deixar de ser, diante das rivalidades políticas, que já eram bem deterioradas, nos meses imediatamente anteriores à independência, entre os dois grupos do Grande Oriente, o Revérbero não perdia ocasião para atacar o ministro José Bonifácio, que detinha, em suas mãos, praticamente, o verdadeiro poder. O jornal publicava extratos de jornais de Londres, Paris e Lisboa, além de transcrever, freqüentemente, tópicos do Correio Braziliense, de Hipólito; divulgava, também, resumos de trabalhos e despachos da Corte, mas o seu mote, na realidade, era representado pelos candentes artigos pela campanha da independência. Impresso nas oficinas de Moreira & Garcez, iria acabar desaparecendo, quando os seus dois líderes deixaram o país, um exilado e o outro fugido, durante os acontecimentos de outubro e novembro de 1822.
   

O Regulador Brasílico-Luso
, depois O Regulador Brasileiro, surgido a 29 de julho de 1822, lutava, também, pela independência, mas entrando em luta com o Revérbero, ns defesa de
José Bonifácio. Era impresso na Tipografia Nacional e redigido pelo frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, que, devido à veiculação de suas idéias, foi inquirido, no Grande Oriente, pelo grupo de Ledo, e sofreu ameaças de sanções, como se pode ver nas atas da
14a. e 15a. sessões do Grande Oriente, realizadas a 9 e a 12 de setembro, respectivamente.

O Regulador também teve participação fundamental na campanha emancipadora, lutando por uma monarquia constitucional, dentro de uma comunidade brasílico-lusa --- o que acabou acontecendo --- em oposição às idéias do Revérbero, as quais eram de um rompimento total com Lisboa.
   

O Tamoyo
, dirigido por José Bonifácio e por Vasconcellos Drummond, deputado e maçom --- emissário da Maçonaria nas províncias da Bahia e de Pernambuco --- era um jornal de feições mais modernas, com colunas e melhor paginação. Foi fechado, violentamente, em 1823, por ocasião do fechamento da Assembléia Constituinte, quando os seus redatores foram presos
e exilados, porque o jornal mostrava idéias próprias, que não agradavam à índole absolutista
do imperador.
   

O Constitucional
, redigido pelos maçons José Joaquim da Rocha --- um dos líderes do episódio do "Fico" --- e padre Belchior Pinheiro de Oliveira, era chamado, pelo povo, de "jornal dos mineiros". Também teve vida curta, pois, surgido em 1821 e desaparecido em 1822, teve apenas 35 números, tendo se sobressaído, todavia, como um campeão das liberdades pátrias, de acordo com as idéias de seus dois redatores.

Batista Campos X Hipólito da Costa


Trabalho de História do Jornalismo

Prof. Paulo Roberto

Aluno: Afonso Gallindo – JORN 13


João Batista Gonçalves Campos

Foi um importante ativista político da história do que atualmente é o estado do Pará, desde a época que antecedeu a Independência do Brasil até as lutas partidárias que culminaram com a explosão do movimento da Cabanagem (1835-1840), ocorrido durante o período da regência provisória.
Filho de Mateus Gonçalves e de D. Maria Bernardo de Campos, foi ordenado em 1805, destacou-se como sacerdote.
Autor intelectual da Cabanagem, alimentou, com suas atitudes corajosas e com seu verbo entusiasmado, a resistência contra o então governador da província Bernardo Lobo de Sousa, por isso teve de refugiar-se no interior da Província, para escapar às perseguições do governo. Redigiu o primeiro jornal publicado em Belém - "O Paraense" - e a seguir o "O Publicador Amazoniense".
Na administração pública, foi vice-presidente do Conselho do Governo da Província e fez parte da Junta Provisória do Governo, no período de 18 de agosto de 1823 a 30 de abril de 1824.
Em 1834, enquanto Batista Campos fazia a barba, provocou, por descuido, um corte profundo em uma espinha no rosto por intermédio da navalha que usava. O ferimento aparentemente irrelevante infeccionou, provavelmente acentuado pelas condições geográficas da Amazônia, o que ocasionou a morte de Batista Campos em 31 de dezembro de 1834. Seu corpo foi enterrado na Vila de Barcarena e, mais de 150 anos depois, em 1985, seus restos mortais foram retirados do local de sepultamento, colocados em uma urna, e levados em carreata pela cidade de Belém, na comemoração dos 150 anos da Cabanagem, sendo posteriormente carregados a um monumento comemorativo na capital paraense.
Em 14 de fevereiro de 1904 foi inaugurada a Praça Batista Campos uma homenagem dedicada pelo então intendente do governo paraense Antônio Lemos
Os restos de Batista Campos atualmente descansam na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré ou Matriz, em Barcarena



Hipólito da Costa

Nascido na Colônia do Sacramento, então domínio da Coroa portuguesa (hoje pertencente ao Uruguai), Hipólito era filho de família abastada do Rio de Janeiro.
Seu pai era Félix da Costa Furtado de Mendonça, alferes de ordenanças da Capitania do Rio de Janeiro e sua mãe Ana Josefa Pereira, natural de Sacramento. Após Sacramento ser devolvido á posse da Coroa espanhola, em 1777, sua família instalou-se em Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde passou a sua adolescência. Fez os seus primeiros estudos em Porto Alegre, concluídos em Portugal, na Universidade de Coimbra, onde se formou em Leis,Filosofia e Matemática (1798).
Recém-formado, foi enviado como diplomata pela Coroa portuguesa aos Estados Unidos da América e ao México, para onde embarcou em 16 de outubro de 1798, com a tarefa de conhecer a economia desses dois países e as novas técnicas industriais aplicadas pelos norte-americanos. Viveu nos Estados Unidos por dois anos onde, na Filadélfia, veio a ingressar na maçonaria o que influenciou a sua vida daí em diante.
De volta ao reino, viajou a serviço da Coroa Portuguesa para Londres em 1802, com o objetivo declarado de adquirir obras para a Real Biblioteca e maquinário para a Imprensa Régia. Ocultamente, entretanto, os seus motivos eram o também de estabelecer contatos entre as Lojas Maçônicas Portuguesas e o Grande Oriente em Londres.
Três ou quatro dias após o seu retorno ao reino foi detido pela Inquisição por ordem de Diogo Inácio de Pina Manique, sob a acusação de disseminar as idéias maçônicas na Europa. Encaminhado às celas do Tribunal do Santo Ofício, onde permaneceu até 1805, logrou evadir-se para a Espanha sob um disfarce de criado, com o auxílio dos seus irmãos maçons. De lá passou para a Grã-Bretanha, onde se exilou sob a proteção do príncipe Augusto Frederico, duque de Sussex, o sexto filho de Jorge III do Reino Unido e grão-mestre da maçonaria inglesa.
Na Inglaterra, obtêm a nacionalidade inglesa com a ajuda do Duque de Essex, adquirindo ações do Banco da Escócia o que lhe outorgava tal direito de forma imediata. Casa em 1817 com Mary Ann Troughton da Costa com quem tem 3 filhos, além de já ter tido 1 filho com Mary Anne (Lyons ou Symons).
Obtendo a condição de estrangeiro neutralizado, um estrangeiro residente com alguns direitos políticos. De Londres passou a editar regularmente aquele que é considerado o primeiro jornal brasileiro: o Correio Braziliense ou Armazém Literário, que circulou de 1° de junho de 1808 a1823 (29 volumes editados, no total).
Com esse veículo, passou a defender as ideias liberais, entre as quais as de emancipação colonial, dando ampla cobertura à Revolução liberal do Porto de 1820 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil. O seu principal inimigo eraBernardo José de Abrantes e Castroconde do Funchal, embaixador de Portugal em Londres, que chamou ao Corrreio: "Esta terrível invenção de um jornal português na Inglaterra", vindo a editar um periódico contra ele, que circularia até 1819 (O Investigador Portuguez em Inglaterra).
Em 1812 fez um acordo secreto com a Coroa portuguesa, que previa a compra de um determinado número de exemplares do jornal e um subsídio para o próprio jornalista, em troca de moderação nas suas críticas contra a monarquia.[1]
Faleceu em 1823, sem chegar a saber que fora nomeado cônsul do Império do Brasil em Londres. No Brasil é considerado o patrono da imprensa. Em Porto Alegre foi homenageado emprestando seu nome ao Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Estava sepultado em St. Mary the Virgin, em Hurley, condado de Berkshire; mas em 2001 seus restos mortais foram trasladados para Brasília. Atualmente seus restos mortais estão nos Jardins do Museu da Imprensa Nacional.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

PRIMEIRA PÁGINA

De como o jornalismo brasileiro nasceu tardiamente. Em Londres.
CECÍLIA PRADA

No quadro do jornalismo atual, precário, inquieto, híbrido e endividado, em que a própria sobrevivência da imprensa escrita é diariamente ameaçada pela avalanche midiática, a instituição de 1º de junho como Dia da Imprensa é digna de nota. São tantos os dias disso e daquilo no nosso calendário, que já não sobram muitos vagos. Mas, tudo bem, já que nesta era de espetáculos eletrônicos não podemos fazer muito para deter o declínio dos ex-impérios jornalísticos, consolemo-nos com um breve mergulho na história, para dela extrair os primórdios singulares da imprensa no Brasil.
A data escolhida como Dia da Imprensa não podia ser mais apropriada: em 1º de junho de 1808 foi lançado, em Londres, o primeiro jornal brasileiro – o "Correio Braziliense"Uma publicação, portanto, que já nasceu bastante exótica. Jornal de um exilado, criado, dirigido e escrito por um único homem – Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774-1823) – e que teve sempre, no dizer do jornalista, "como escopo principal o Brasil". De nome grande e personalidade maior, Hipólito é ainda hoje reivindicado como co-nacional tanto de brasileiros como de portugueses – por ter nascido em Colônia do Sacramento (hoje pertencente ao Uruguai), um enclave português em território espanhol.
Após ter feito os primeiros estudos em Porto Alegre, o jovem Hipólito – então com 19 anos – foi mandado para Coimbra, onde se formou em leis, filosofia e matemática. Nunca mais voltaria ao Brasil. Tornou-se funcionário do governo português aos 24 anos e viajou para os Estados Unidos e o México, a serviço, para estudar a economia dos dois países. Em Filadélfia, ingressou na maçonaria, fato que influenciou, dali por diante, todo o seu modo de pensar e agir. Por causa dessas "novas idéias", começou a ser perseguido ao voltar a Portugal, onde ainda imperava o Santo Ofício da Inquisição.
Em 1802 realizou uma viagem à Inglaterra, oficialmente para comprar livros para a Biblioteca Pública de Lisboa e máquinas para a Imprensa Régia. Secretamente, porém, tinha por objetivo tentar a filiação de algumas lojas maçônicas portuguesas ao Grande Oriente de Londres. Uns três ou quatro dias após seu regresso a Portugal, foi preso por ordem de um famigerado chefe de polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, e encaminhado aos cárceres da Inquisição, onde permaneceu até 1805. Então, naturalmente ajudado pelos confrades "pedreiros-livres", conseguiu fugir da prisão, disfarçado de criado de serviço. Escolheu a Inglaterra como seu domicílio permanente – lá "era amigo do rei", literalmente... isto é, do filho do rei Jorge III, o duque de Sussex, chefe da maçonaria inglesa. Casou-se com uma inglesa e recebeu o status de denizen – estrangeiro admitido a certos direitos políticos. Ao morrer, aos 49 anos, deixou numerosa descendência britânica.
A condição adquirida protegia-o da perseguição política, que como cidadão português ou brasileiro inevitavelmente sofreria, e permitiu que exercesse livremente sua profissão. Ele próprio confessava: "Propusemo-nos a escrever em Inglaterra para poder, à sombra de sua sábia lei, dizer verdades que é necessário que se publiquem, para confusão dos maus e esclarecimento dos vindouros". Furioso, seu principal inimigo, o conde de Funchal, embaixador português em Londres, dizia, do "Correio": "Essa terrível invenção de um jornal português na Inglaterra", mas era obrigado a engolir o enorme sucesso do empreendimento. Os "folhetos de Londres" circulavam em Portugal e de norte a sul no Brasil, apesar dos numerosos interditos sobre eles lançados pela Coroa portuguesa.
Até hoje o "Correio" é unanimemente louvado pelos historiadores, a começar por Varnhagen: "Talvez nunca o Brasil tirou da imprensa mais benefícios do que os que lhe foram oferecidos nesta publicação". O valor literário do estilo de Hipólito (que deixou também vários livros) foi amplamente reconhecido por muitos críticos. Sílvio Romero conseguiu elevá-lo a patrono da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras. E Antonio Candido, em Formação da Literatura Brasileira, diz: "Hipólito foi o primeiro brasileiro a usar uma prosa moderna, clara, vibrante e concisa (...) foi o maior jornalista que o Brasil já teve, o único cuja obra se lê hoje com interesse e proveito, foi um escritor e um homem de pensamento, exprimindo melhor que ninguém os temas centrais da nossa época das luzes".
Os três tempos de Hipólito
Para os jornalistas de hoje, ligados em rede com o mundo todo, e que podem ter acesso em poucos minutos aos mais diversos acontecimentos, lembrar que no início do século 19 – antes mesmo da invenção do telégrafo – os fatos acontecidos no Rio de Janeiro levavam até seis meses para repercutir em Londres, e vice-versa, implica automaticamente o reconhecimento de que a profissão tinha naquela época um caráter inteiramente diverso. Que requeria uma formação intelectual diferente, um tempo próprio – o "Correio Braziliense ou Armazém Literário" (nome que já indicava a diversidade de assuntos nele tratados) foi publicado com absoluta regularidade, mensalmente, de junho de 1808 a dezembro de 1822 e funcionou ativamente como paladino e esteio de dois movimentos políticos essenciais e intimamente ligados – a Revolução do Porto (1820) em Portugal e a Independência do Brasil.
Hipólito aliava a esse tipo de jornalismo literário, ao formato livro-jornal comum na época, informações de caráter prático como cotações das Bolsas ou o rumo dos negócios e um amplo noticiário sobre o que ocorria na Europa. Se bem que naturalmente defasadas, essas notícias pelo menos colocavam dentro do "mundo" os semibárbaros brasileiros, ou "brasilienses" – como se dizia naquela época, uma vez que o termo "brasileiro" era reservado aos portugueses que vinham tentar fortuna no Brasil.
O historiador Sérgio Goes de Paula, organizador e apresentador do livro Hipólito José da Costa, caracteriza a linha editorial do "Correio Braziliense" segundo um critério de tempo: vê no conjunto dos escritos jornalísticos de Hipólito diferenças entre um tempo mais longo, medido em anos, durante os quais foi objetivo do autor formar elites, instruí-las com a publicação de obras inteiras traduzidas e de críticas das principais obras econômicas e políticas da época; umtempo mais curto, medido em meses e também regular, com o objetivo de dar informação; e um tempo ainda mais curto e de medida variável, correspondente aos fatos recém-acontecidos no Brasil ou em Portugal, que deviam ser comentados.
Realpolitik
A partir da Revolução do Porto, o "Correio" muda de cara – volta-se mais diretamente para a política, influi decididamente em Portugal. É a sua fase mais trepidante – os acontecimentos locais, é claro, rapidamente eram refletidos em Londres e em outros pontos da Europa. O jornal de Hipólito acresce aos seus méritos o de "ser o primeiro a colocar o Brasil como um protagonista que logo fará sua entrada na cena política".
Surpreende ainda hoje a pauta do jornal: além de publicar seguidamente notícias também das colônias espanholas na América, mostrando seu interesse pela política continental, Hipólito defendia a necessidade de uma nova capital para o Brasil (no interior, às margens do São Francisco ou do rio das Velhas) e insistia na necessidade da abolição gradual da escravidão e do estímulo à imigração européia.
Pelo seu ideário iluminista e pela capacidade de formar opiniões, o jornalista podia até mesmo manipular a distância a corte portuguesa no Rio de Janeiro – a começar pelo próprio dom João VI. Este, dizem, não deixava de ler, até com complacência, o "Correio", que aliás nunca o atacou pessoalmente, mas, sim, ao regime monárquico absolutista e aos desmandos de ministros e outras autoridades. A posição do "Correio", no qual Hipólito gastara cinco anos traduzindo e publicando a obra de Simonde de Sismondi – considerado por Karl Marx chefe do socialismo pequeno-burguês –, a partir de 1820 está sedimentada: constitucionalista, contra os aristocratas, oposto a uma corrente que propugnava a reunião de Portugal à Espanha. E resolvido, principalmente, a demonstrar à Coroa portuguesa que, com as mudanças que se operavam no mundo (ruía o absolutismo), o Brasil, desde 1815 elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarve, nunca mais voltaria a ser a colônia passiva e explorada que um dia fora.
A ironia foi a grande arma de Hipólito. Usou-a brilhantemente, como no exemplo citado pela historiadora Isabel Lustosa em seu livro Insultos Impressos – um comentário do "Correio", datado de 1808, sobre decreto do governo português recém-instalado no Rio de Janeiro, declarando "guerra aos botocudos". Fingindo levá-lo a sério, Hipólito afirmava que só publicaria o decreto quando recebesse "a resposta de Sua Excelência o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra da Nação dos Botocudos", ressalvando: "É verdade que ela [a Nação botocuda] ainda não sabe ler, mas aprenderá, julgo eu, para responder a isto".
Foi durante os dois anos que antecederam a independência do Brasil que essa ironia, a fineza do seu estilo, que nunca perdia a compostura nem faltava à verdade, serviu – mais do que nenhum outro discurso da época – para fortalecer a posição do país diante de Portugal. Já a própria transferência da corte para o Rio de Janeiro, em 1808, a seu ver promovera uma inversão dos papéis: "Portugal tornado colônia e o Brasil, metrópole". Chamava também a atenção de seus leitores para a posição equivocada dos europeus em relação às colônias americanas: "A obstinação em que se está na Europa, de querer considerar aquelas importantes e poderosas regiões como pequenas colônias em sua infância, é um erro que a experiência dos Estados Unidos devia ter ensinado a retificar".
Após o retorno de dom João VI a Portugal, os esforços dos partidários da independência concentraram-se no príncipe regente dom Pedro. Como diz Caio Prado Júnior, "num trabalho intenso de o afastar da influência das cortes portuguesas e trazê-lo para o seio dos autonomistas". Para o historiador Barbosa Lima Sobrinho – que organizou e publicou toda a coleção do "Correio Braziliense" –, teria realmente havido um entendimento entre José Bonifácio e Hipólito da Costa para influir sobre o príncipe, identificando seu destino com o do Brasil. Segundo vários historiadores, o resultado dessa "manobra" teria sido a independência do Brasil.
Insultos e bordoadas
Quando, em 1808, a corte portuguesa transferiu-se para o Brasil, o príncipe regente trazia consigo uma tipografia completa. Assim que se instalou no Rio de Janeiro, instituiu a Imprensa Régia – mas no mesmo decreto criou também a censura prévia. Apenas seria permitida a circulação de órgãos como a "Gazeta do Rio de Janeiro", fundada no mesmo ano, mas que só publicava atos oficiais do governo.
Somente em 1821, com a volta da família imperial a Portugal, foi extinta a censura, surgindo então vários jornais, como o "Revérbero Constitucional Fluminense", "O Espelho" e "A Malagueta", no Rio de Janeiro, e o "Diário Constitucional",na Bahia. Todos profundamente empenhados em debates políticos, primeiro sobre a permanência do príncipe dom Pedro no Brasil e depois sobre a independência. Atuação destacada no período teve o jornal "Sentinela da Liberdade",publicado em Pernambuco por Cipriano Barata.
A liberdade de expressão durou pouco tempo, pois logo após a independência foi restabelecida a censura – mas sem muito efeito, pois era abertamente desafiada por vários órgãos, da corte ou das províncias.
Foi particularmente rica essa época na proliferação de pequenos jornais, semanários e revistas caracterizados por linguagem agressiva, ofensiva, muitas vezes chula e eivada de termos de baixo calão. Sabemos que estavam acirrados os ânimos naquele período, pois à independência formal opunha-se o continuado conflito de opiniões e facções políticas – ainda muito ativo estava o partido português, enquanto maçonaria e republicanos confrontados passavam até mesmo dos insultos verbais à conspiração e aos atentados armados.
O mais interessante é que um jornalista havia que, embuçado até em 29 pseudônimos, enchia colunas e distribuía a torto e a direito catilinárias e bordoadas – ele se chamava, de nome notório e principal, Pedro de Alcântara de Bragança e Bourbon, mas durante mais de oito anos acobertou-se por detrás de vários nomes. Em sua estréia jornalística, ocorrida em 15 de janeiro de 1822, usava Sua Alteza Real o pseudônimo de "Simplício Maria das Necessidades, Sacristão da Freguesia de São João de Itaboraí"; mais tarde, "P. Patriota", "O Ultra-Brasileiro", "O Quitute", "O Inimigo dos Marotos", "Piolho Viajante", "Duende", "O Espreita", "O Derrete-Chumbo-a-Cacete", "O Destemido", "O Açoite dos Patifes", "O Verdadeiro e Sincero Amigo do Sistema Monárquico Constitucional", etc. Não é preciso lembrar que em muitos desses artigos colaborava o seu maior amigo e conselheiro, o Chalaça.
Mas em seu estudo sobre a imprensa humorística do Império, Délio Freire dos Santos (in Prefácio ao Cabrião, reedição fac-similada) observa que sob o pseudônimo de "O Filantropo" o príncipe teria se mostrado um precursor da extinção do tráfico e da abolição da escravatura. Chegou também, quando já imperador, a escrever artigos com o próprio nome – segundo o historiador Hélio Vianna, esses documentos importantes, encontrados nos arquivos da família imperial brasileira, não foram publicados.
O que é certo é que em 1830 o monarca-jornalista seria "arrolhado" pelo marquês de Barbacena, seu principal ministro, que o fez "prometer não escrever mais para as gazetas", enquanto proibia também aos jornalistas esconderem-se atrás de pseudônimos. Sentindo na pele essa "falta de liberdade de expressão", o imperador aproveitou a Fala do Trono para protestar...
Lendo-se as cartas e os artigos publicados por Sua Majestade Imperial, não há dúvida de que agiu bem Barbacena – é de uma grosseria incrível o seu "estilo", recheado de palavrões e chulices, o que torna impossível exemplificar aqui suas incursões jornalísticas, como gostaríamos de fazer. Os interessados poderão procurar tanto a obra de Hélio Vianna, D. Pedro I Jornalista, como o recente e saboroso livro já citado, de Isabel Lustosa.
"Mártires da imprensa"
Que a fúria dos governantes contra os inimigos da imprensa não se limitava à verbalização, dá-nos exemplo a agressão sofrida pelo jornalista português Luiz Augusto May, que dirigia "A Malagueta" – um jornal que contava com a simpatia de Hipólito da Costa, seu parceiro de ideologia "iluminista". Na noite do dia 6 de junho de 1823, May conversava com amigos e aguardava uma "prometida visita do ministro José Bonifácio de Andrada e Silva" – após o lançamento de um número extraordinário do seu periódico, em que atacava diretamente os Andradas. Repentinamente sua casa foi invadida por sicários mascarados, armados de cacetes e espadas. Segundo Varnhagen, o jornalista só teria escapado de ser assassinado devido à presença de espírito de uma negra da casa, que teria apagado a luz, possibilitando a fuga de May, bem machucado, para a casa de um vizinho.
Foi grande a repercussão desse fato, tanto mais que também haviam tomado parte nele, dizia-se, "membros da camarilha inseparável do imperador, que a tal não se aventurariam sem a anuência do chefe".
Luiz Augusto May se tornaria assim "o primeiro mártir da imprensa" no Brasil, embora desde o início de 1822 já fossem registrados vários casos de prisão de jornalistas tidos como "subversivos". Coube a João Soares Lisboa, redator do "Correio do Rio de Janeiro", a "honra" de ter sido o primeiro jornalista processado no Brasil pela Lei de Imprensa (em agosto de 1822) – ele ousara cobrar do príncipe regente as prometidas "eleições diretas" (já!) para a Assembléia Constituinte.
Destino mais trágico teria, alguns anos mais tarde, o jornalista italiano Giovanni Baptista Líbero Badaró, assassinado em circunstâncias nunca bem esclarecidas, em São Paulo, em 1830. Era também médico e dava aulas de geometria no Curso Anexo, preparatório para o ingresso de estudantes na faculdade de direito. Fundara em 1829 o "Observatório Constitucional", que se tornou uma tribuna contra a autocracia de Pedro I. Diz a tradição das histórias paulistanas que, ao morrer, teria dito Badaró: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade".
Por todo o país espalharam-se manifestações de repúdio pela morte do jornalista, com hostilidades abertas contra o imperador. Na histórica viagem que este empreendeu pela província de Minas Gerais logo depois, contam que quando Pedro I chegava às cidades os sinos das igrejas badalavam, em homenagem a Badaró. O resultado viria logo mais – no dia 7 de abril de 1831, quando, contrariado em seu ímpeto absolutista, o imperador foi forçado a abdicar em nome de seu filho ainda criança, o futuro dom Pedro II, e a retirar-se para Portugal.

Fonte:http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=188&Artigo_ID=2937&IDCategoria=3111&reftype=1&BreadCrumb=1

Um pouco mais sobre "A Malagueta"

 

Um jornal apimentado

Por Matías M. Molina em 19/04/2011 na edição 638
"Meu irmão, Luís Augusto May, portador desta, pede-me que o recomende a Vossa Senhoria. Ele é um doido varrido, mas como também faz caturrizes pode diverti-lo nas horas vagas; queira portanto dar-lhe preferência a qualquer outro que esteja nas mesmas circunstâncias. O conhecimento que tem das línguas inglesa e francesa o habilita igualmente para o serviço civil e militar principalmente se o seu chefe o vigiar bem e não o deixar conversar demais".
Uma carta com esse texto foi passada ao marquês de Resende por Hipólito José da Costa, o redator do Correio Braziliense que conhecera May em Londres. A parte em itálico é, certamente, uma brincadeira de Hipólito. Há outra versão mais formal para essa primeira parte: "Escrevo esta carta ditando ao portador, o tenente Luís Augusto May, o qual, além do ofício que já escrevi a seu respeito, deseja esta carta particular com que se te apresente. É natural que escrevendo ele mesmo a carta, eu não diga nem muito bem nem muito mal". A segunda parte é idêntica nas duas versões.
A carta foi escrita em 7 de setembro de 1810 pelo conde de Funchal, embaixador em Londres, a seu irmão, o conde de Linhares, ministro da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra no Rio de Janeiro. Revela, mesmo na versão formal, a insistência de May para conseguir algumas palavras, ainda que não fossem muito lisonjeiras, que o recomendassem a uma alta autoridade. Nascido em Lisboa, ex-seminarista e capitão de artilharia, estava vindo para o Brasil como intérprete dos trabalhadores suecos da fábrica de ferro de São João de Ipanema, em Sorocaba (SP).
Homem culto, ambicioso, de sólidos conhecimentos jurídicos, May procurou no Brasil aproximar-se de pessoas ligadas ao poder. Perseguiu com afinco honrarias, cargos públicos e promoções. Notabilizou-se pelo oportunismo e caráter volúvel.
Pleiteou o cargo de sargento-mor e recebeu apenas o hábito de Cavalheiro da Ordem de São Francisco. Obteve um emprego de oficial da Secretaria dos Negócios da Marinha, do qual conseguiu aposentar-se em 1820, mas quando a aposentadoria foi ameaçada pelas cortes de Lisboa, que acabaram com a seção em que trabalhava, May publicou o jornal A Malagueta em dezembro de 1821, alguns meses depois de ter aparecido o Reverbero Constitucional Fluminense de Gonçalves Ledo e Januário da Cunha. Recebeu, para editar a publicação, ajuda de um comerciante português, Manuel Joaquim Portugal de Lima, que lhe cedeu o material tipográfico.
Nomeação esperada
A Malagueta foi lançada como publicação independente. Foi impressa na tipografia de Moreira & Garcez e depois na Impressão de Silva Porto &c. Custava 100 réis, preço superior aos 80 réis de quase todos os outros jornais. Consistia basicamente num longo e incisivo artigo de May, escrito na primeira pessoa, para tornar-se mais próximo do leitor. José Hipólito da Costa comentou no Correio Braziliense que A Malagueta "não é periódica, porque se publica ocasionalmente; nem é destituída de instrução, nem lhe falta um bom raciocínio, e menos a boa linguagem". Mas seu estilo foi considerado por Juarez Bahia como "descuidado, desabrido, abusado, radical, panfletário". A linguagem era melíflua e insinuante; evitava os ataques diretos; as críticas mais ferinas eram precedidas de lisonjas e misturadas com elogios. Implorava ao mesmo tempo em que agredia. Atacava e se colocava como vítima. Mas adotou um tom pedagógico que atraiu os leitores. Para Carlos Rizzini, May foi "o mais destro e pertinaz polemista da Independência", e também "culto, vaidoso e destemido, expoente do jornalismo desregrado de seu tempo". Gondim da Fonseca escreveu que era "o mais célebre jornalista da época".
Defendeu uma causa popular, que era a permanência do príncipe d. Pedro no Brasil, e uma política de contestação às cortes portuguesas. O êxito foi imediato. Estima-se que A Malagueta em pouco tempo conseguiu 500 assinaturas no Rio, um número muito elevado na época, bem superior ao das publicações concorrentes, apesar de ter um preço maior. Desde o começo, polemizou com outras publicações, como o ReverberoO Espelhoe com José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, que chamava May de "tigre devorador sob a pele de mansíssimo cordeiro". A influência do jornal valeu ao seu redator a alcunha de "o Malagueta". O partido português publicou oito folhetos para polemizar com ele ou para combatê-lo.
A Malagueta, que em geral mostrava uma linha liberal, levantou várias questões constitucionais importantes com profundo conhecimento de causa e, em ocasiões, articulava argumentos bem construídos e relevantes sobre a condução do país. Mas esteve sujeita a bruscas oscilações em sua orientação. Se criticava o governo, também podia bajulá-lo quando isso convinha aos interesses de May. Chegou a defender com empenho iniciativas políticas que depois combateu com o mesmo vigor. Assim como tinha obtido uma boa acolhida inicial, por sua defesa da Constituição, A Malagueta foi perdendo credibilidade por sua linha volúvel.
A vida do jornal foi tão conturbada quanto a sua orientação editorial. Teve várias fases. May esperava ser nomeado para uma alta função no exterior. José Bonifácio, que conhecia sua atração por honrarias e empregos públicos, lhe ofereceu o cargo de oficial-mor da Secretaria dos Negócios Estrangeiros em Washington, desde que deixasse de publicar A Malagueta. Ele, efetivamente, suspendeu a circulação do jornal e explicou aos seus assinantes, nas páginas do Correio do Rio de Janeiro, que o fazia por "motivo de serviço nacional"; pouco depois diria, na primeira edição extraordinária de A Malagueta, que a suspensão era definitiva.
Presença de espírito
O jornal parou depois de ter publicado 31 números, de dezembro de 1821 a junho de 1822. Mas não se chegou a um acordo sobre a remuneração que "o Malagueta" iria receber, sua nomeação não saiu e ele rompeu com José Bonifácio; em dezembro, anunciou que voltaria a publicar o jornal fazendo oposição ao governo.
Nesta segunda fase saíram sete "Malaguetas" extraordinárias, sem periodicidade regular, a primeira em julho de 1822, a última em julho de 1824. A terceira fase, com o nome de Malagueta, sem o artigo, foi de 1828 a 1829, com 91 edições, mas não teve a repercussão da primeira. Na quarta e última, entre 1831 e 1832, saíram 36 números. May lamentava ter ficado sem tipografia para publicar o jornal, pois tinha sido "despedido pelo impressor que o alugava", e convidava qualquer senhor dono de tipografia, empreendedor ou mesmo curioso, a tomar conta da folha, mas mantendo o redator.
Depois que May deixara de publicar A Malagueta em 1822, sem conseguir o cargo pretendido em Washington e de ter anunciado em dezembro o relançamento do jornal com ataques ao governo, foi atribuído a d. Pedro um artigo de virulência extremada com o título "O calmante da e no Malagueta", publicado no jornal O Espelho em janeiro de 1823. Dizia que May era o "esturdíssimo, esturradíssimo, constipadíssimo, matoníssimo, politiquíssimo, cacholíssimo sr autor de um periódico cujo nome é o de uma pimenta que se chama aqui malagueta ou, por outra, p. que o pariu (a ele)", fazendo um trocadilho grosseiro e de mau gosto com a palavra indígena "bacupari", sinônimo de malagueta.
O artigo também ridicularizava a figura de May: o nariz, os pés, as "canelas esburgadinhas", os joelhos, as coxas, "a barriga que não tem", o umbigo, o pescoço, a habilidade nas mãos, e detalhadamente o resto do corpo; o qualificou de impostor, estouvado e interesseiro, fez insinuações de homossexualismo e não poupou nem a sua mulher nem os seus filhos, ao dizer que ele os deixava "fazer o que lhes parece". Chegou a acusar o jornalista de ter roubado documentos do conde de Funchal para vendê-los a Hipólito José da Costa. Isabel Lustosa diz que esta notável peça jornalística é "talvez única no seu estilo publicada no Brasil".
May tinha elogiado d. Pedro em diversas ocasiões. Quando saiu o artigo que o ofendeu, pediu ao imperador que afirmasse publicamente, numa espécie de retratação, não ter sido ele o autor. D. Pedro prometeu fazê-lo através do Diário do Governo. Talvez como compensação e para acalmá-lo, May foi promovido em maio a oficial-mor graduado da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha, o posto mais alto do funcionalismo. Mas como não tivesse sido divulgado o desmentido, May publicou, na Malagueta extraordinária de junho de 1823, uma carta aberta ao imperador. Nela o lembrou da promessa não cumprida de publicar que o governo não tomara parte na "publicação suja de 10 de janeiro", que a "todos parecera ter saído debaixo dos auspícios de Alta Proteção", numa clara referência ao imperador; agradeceu a mercê (promoção) recebida, procurando "remediar o mal que outros tinham feito"; e criticou duramente os Andradas e várias pessoas da corte. E disse a d. Pedro: "Esta miséria só de per si obriga a Augusta Pessoa de V.M.I [Vossa Majestade Imperial] a tomar as suas medidas para se salvar da imputação que por lá fora se possa fazer – que V.M.I. saboreia tais despropósitos".
No dia seguinte, José Bonifácio disse a May que iria visitá-lo em sua casa. Foi, não o encontrou e disse que voltaria mais tarde. O Malagueta o esperou na companhia de várias pessoas. Em lugar de José Bonifácio, apareceu um bando de encapuzados que atacou o grupo. Segundo May, tinham "espadas nuas e paus grossos que eu vi, e com os quais perpetraram em minha pessoa o massacre que constou de grande primeiro golpe de espada, que foi aparado no castiçal, e na mão esquerda, e do qual resultou o aleijão e ferida aberta que ainda hoje conservo, de mais cinco golpes ou cutiladas, maiores e menores na cabeça, que se me deram enquanto as luzes não se apagaram, além de dez ou doze contusões violentas no pescoço e corpo, de que resultou o aleijão do dedo índice da mão direita; e isto além da ruptura que me sobreveio com os esforços que eu fiz quando na minha fugida dos assassinos, passei a vala que divide a minha chácara da do Padre Serafim dos Anjos, para cuja casa eu me refugiei com o auxílio da escuridão". Varnhagen escreve que May se salvou "pela presença de espírito de uma preta", que apagou a luz, permitindo que ele fugisse precipitadamente para a chácara do padre vizinho. Um dos presentes, um padre, se escondeu embaixo de uma mesa.
Sem importância
O Diário do Governo publicou vários artigos atacando A Malagueta, sem mencionar a agressão ao seu redator durante vários dias. Quando o fez, um artigo assinado por Observador justificou o espancamento dizendo que era "muito e muito natural que um tal escritor provocasse a cólera de imensos indivíduos menos fleumáticos do que eu". José Bonifácio foi apontado no Rio pela população e pela imprensa como suspeito de ter sido o mandante da agressão. Gondim da Fonseca acredita que, sem dúvida, foram os Andradas. O Correio do Rio de Janeiro escreveu uma quadrilha:
"Chamam servis os Andradas,
é calúnia, é falso, é peta.
São liberais a ‘matar’,
e que o diga o Malagueta".
No ano seguinte, num panfleto foi publicada esta quadra:
"Caro Malagueta meu,
o mundo pasmado está
do pouco se vos dá
do muito que se vos deu".
No entanto, é provável que a ordem para o espancamento tivesse partido de d. Pedro. Um dos agressores deixou cair uma carta procedente da Bahia que o identificou como uma pessoa de "alto cargo", que teria sido Pedro Dias Pais Leme, futuro marquês de Quixeramobim. May disse que a ordem para a agressão não foi dada pelos Andradas, mas nunca quis revelar, por medo ou conveniência, quem a teria dado. Numa carta escrita do exílio, José Bonifacio disse do imperador que "quando o doido do May escreveu contra ele, prorrompeu na atrocidade que todos sabem". Devido aos ferimentos recebidos, o Malagueta foi aposentado, porém "com exercício" da função, o que levou o visconde de Cairu a escrever que "levar pancadas e pedir indenizações assaz lucrativas!!! Não é mau negócio, assim ele dure muitos anos!!!" May continuou mandando cartas ao imperador pedindo favores, mesmo desconfiando, ou tendo certeza, de sua participação no atentado.
Em agosto de 1829, May foi espancado de novo, quando saía da Câmara. Recebeu várias pancadas na cabeça com um pau com pregos na ponta e ficou seriamente ferido. Novamente, é provável que o mandante fosse o imperador. O jornalista tinha escrito um artigo, "A fita e as devisas (sic)", por ocasião do segundo casamento de d. Pedro, numa referência à preferência da nova imperatriz, Amélia Eugênia, pela cor rosa, que ficou na moda na corte. Em sua homenagem, o imperador criou a Ordem da Rosa e a corte lhe ofereceu um baile em que todas as damas usaram vestidos dessa cor.
A respeito desse segundo o atentado, o Jornal do Commercio escreveu: "A soltura de linguagem do redator daMalagueta, que nas suas cáusticas jeremíadas nem as cinzas dos mortos respeitava, tornasse como infalível uma tal catástrofe, contudo um atentado destes é para lastimar, pois a vida do Cidadão e do Deputado deve ser respeitada, quando se trata de reprimir a ousadia do jornalista. Assaz castigado se acha o redator da Malaguetapelo descrédito em que caiu na opinião pública". Com essa agressão terminou uma das etapas da Malagueta.
May, que tinha sido eleito deputado, não conseguiu a reeleição. Tentou aproximar-se de Feijó, durante a Regência. No ocaso, escreveu ao regente que, no tempo de Pedro I, "se então era odiado, ao menos não era eu desprezado; hoje vou à casa de V. Excia. (pela terceira vez) e seus lacaios correm com a gente; ora, isto é duro". O Malagueta tinha perdido a importância que conseguira com A Malagueta.

Luís Augusto May


   Um dos personagens mais polêmicos nos anos que an- tecederam a independência do Brasil e no período imediata- mente pós-conquista dá nome a uma rua no Ipiranga. Trata-se Luís Augusto May, um ex-funcionário português, fundador e diretor do jornal A Malagueta. Ele se vangloriava de ter sido a primeira publicação a noticiar o “Dia do Fico”, atacava o governo, mas poupava D. Pedro I, concentrando suas críticas em José Bonifácio. O historiador Nelson Werneck Sodré conta que, depois de uma interrupção de circulação, A Malagueta voltou em 1823 como oposição ao Governo. O pesquisador externa a suposição de que May ficara aborrecido por não ter conseguido um cargo no exterior e reeditou o jornal, como vingança. A linha contrária ao imperador valeu ao jornalista ataques do Espelho, sendo que atribui-se ao próprio D. Pedro I a autoria dos textos mais virulentos divulgados pelo jornal. May também acabou sendo vítima de violenta agressão física em 6 de junho de 1823 que o deixou com uma mão aleijada. Também nesse episódio, são fortes os indícios de que o imperador, patrono do fim da censura prévia, estava entre os agressores e que May poderia tê-lo reconhecido, tendo se aproveitado para tirar vantagem, pois só relatou o ataque em março de 1824.

Sustentação dos votos dos deputados Raimundo José da Cunha Mattos e Luiz Augusto May sobre a convenção para a final extincção do commercio de escravos.
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01754900#page/18/mode/2up



Líbero Badaró


Giovanni Battista Líbero Badaró (ou Dr. João Batista Líbero Badaró), jornalista, político e médico, formou-se pelas universidades de Turim e Pávia, na Itália.

Chegou ao Brasil em 1826, aos 28 anos de idade. Estabelecendo-se em São Paulo, filiou-se à corrente liberal que pregava a autonomia para o Brasil e participou de lutas políticas ligadas à independência.


Em 1829 fundou o jornal periódico "Observador Constitucional" onde denunciava os desmandos e excessos cometidos pelos governantes. Já no primeiro dia de circulação, escreveu: "Não devia vegetar no Brasil a planta do despotismo".


No dia 20 de novembro de 1830, Badaró sofreu um brutal atentado à bala. A primeira pessoa a socorrê-lo foi o estudante de direito Emiliano Fagundes Varela, pai do futuro poeta Fagundes Varela. Suas últimas palavras foram: "Morre um Liberal, mas não morre a Liberdade". No dia seguinte estava morto.


Um alto funcionário do Judiciário imperial chegou a ser processado como mandante do crime, mas foi absolvido, por falta de provas. Segundo historiadores, a ordem para matar Badaró pode ter partido do próprio imperador dom Pedro 1o.


A contribuição de Líbero Badaró para a defesa da liberdade de expressão vai além da tragédia pessoal. É seu um dos primeiros escritos publicados no Brasil em defesa da liberdade de imprensa, refutando sempre a tese de que os abusos praticados pela imprensa justificariam o cerceamento da liberdade.


Com sua morte, aumentaram o descontentamento e as manifestações de protesto contra o absolutismo de D. Pedro 1o, que abdicou em 7 de abril de 1831.

João Batista Gonçalves Campos


João Batista Gonçalves Campos 
(Barcarena1782 — Barcarena, 31 de dezembro de 1834) foi um cônegojornalista e advogado brasileiro.
Foi um importante ativista político da história do que atualmente é o estado do Pará, desde a época que antecedeu a Independência do Brasil até as lutas partidárias que culminaram com a explosão do movimento da Cabanagem (1835-1840), ocorrido durante o período da regência provisória.
Filho de Mateus Gonçalves e de D. Maria Bernardo de Campos, foi ordenado em 1805, destacou-se como sacerdote.
Autor intelectual da Cabanagem, alimentou, com suas atitudes corajosas e com seu verbo entusiasmado, a resistência contra o governador da província Bernardo Lobo de Sousa, por isso teve de refugiar-se no interior da Província, para escapar às perseguições do governo. Redigiu o primeiro jornal publicado em Belém - "O Paraense" - e a seguir o "O Publicador Amazoniense".
Na administração pública, foi vice-presidente do Conselho do Governo da Província e fez parte da Junta Provisória do Governo, no período de 18 de agosto de 1823 a 30 de abril de 1824. Por ordem de Grenfell, foi amarrado à boca de um canhão aceso no dia 17 de outubro de 1823.
Em 1834, enquanto Batista Campos fazia a barba, provocou, por descuido, um corte profundo em uma espinha no rosto por intermédio da navalha que usava. O ferimento aparentemente irrelevante infeccionou, provavelmente acentuado pelas condições geográficas da Amazônia, o que ocasionou a morte de Batista Campos em 31 de dezembro de 1834. Seu corpo foi enterrado na Vila de Barcarena e, mais de 150 anos depois, em 1985, seus restos mortais foram retirados do local de sepultamento, colocados em uma urna, e levados em carreata pela cidade de Belém, na comemoração dos 150 anos da Cabanagem, sendo posteriormente carregados a um monumento comemorativo na capital paraense.
Em 14 de fevereiro de 1904 foi inaugurada a Praça Batista Campos uma homenagem dedicada pelo então intendente do governo paraense Antônio Lemos
Os restos de Batista Campos atualmente descansam na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré ou Matriz, em Barcarena